DOULA NA PARENTALIDADE
cuidadora | responsável de berçário | ama | babysitter
Acredito que apenas podemos dar o que temos em nós. Por isso tenho alguma dificuldade em me apresentar ou rotular através de nomes de métodos ou abordagens. Eles não fazem parte de mim, mas servem-me sim como inspiração. Servem-me na minha prática como guias de apoio, a par dos meus próprios valores, sendo que será sempre a própria criança a impulsionadora do processo do seu desenvolvimento, quem dita o ritmo e dá os sinais de prontidão para a minha intervenção.
Ao longo do meu percurso de desenvolvimento pessoal vou sendo inspirada por diversas formas de SER, de ESTAR e de FAZER. E aqui é-me impossível separar a minha vivência pessoal da profissional, uma vez que as duas se vão intercruzando uma na outra, continuamente. Tanto me posso sentir inspirada por um método pedagógico conhecido mundialmente, como por uma pessoa que, ao meu lado, me marca pela simplicidade e respeito com que lida com uma criança num momento de aprendizagem.
O que todas essas diferentes inspirações têm em comum é uma atitude crítica e curiosa face ao que tradicionalmente se reproduz em contexto educativo, de uma forma tantas vezes automatizada e pouco refletida. Em todas essas inspirações há também um fator comum que é o respeito pela criança, assim como a responsabilização do adulto pela criação do contexto que permita a essa criança desenvolver-se da forma mais saudável possível, física-, mental- e emocionalmente.
NA PRÁTICA, O QUE FAÇO?
Trabalho desde Setembro de 2023 no antigo colégio “O Saltitão”, agora escola FloresSer, como responsável de berçário, onde acompanho 6 bebés e as suas famílias, neste processo de cuidar e educar, de forma humanizada e harmoniosa, com respeito pelo ritmo e necessidades de cada uma das crianças. Identifico-me com a missão e valores deste projeto que está em constante processo de crescimento. Fui convidada para implementar, desde os primeiros meses de vida do bebé, uma mudança de paradigma do que é um berçário, com a convicção de que é possível fazer diferente, abrindo espaço à família e criando espaço para o bebé, para que se possa desenvolver da forma mais livre possível, mantendo a sua própria identidade e individualidade.
Desde Setembro de 2024 que o colégio está inserido numa Cooperativa integrada, a FloresSer em relação, da qual faço parte enquanto Cooperante.
É também em parceria com a FloresSer que facilito sessões de Educação Emocional a crianças dos 4 aos 6 anos de idade (brevemente também a crianças do primeiro ciclo). Acredito que uma literacia emocional pode ser desenvolvida desde a primeira infância. Neste caso, o programa em que me baseio está preparado para crianças a partir dos 4 anos e até aos 10-12 anos de idade, sendo abordado de formas distintas de acordo com cada faixa etária e o seu desenvolvimento cognitivo.
Ofereço serviços de babysitting em Portugal desde 2022, especificamente para a faixa etária 0-3 anos.
Neste momento, o processo de credenciação para a atividade de Ama em regime livre, junto da Segurança Social, encontra-se em pausa, não estando esse projeto aberto para pré-inscrições neste momento.
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Inspirações para a prática de Educadora
autores e abordagens que me vão guiando e reforçando (n)o caminho
Reggio Emilia
– exploração, descoberta e documentação –
As crianças nesta primeira infância são descobridores curiosos natos. É por isso fundamental que lhes seja dado um contexto de segurança que lhes permita fazer o maior número de descobertas. Isto poderia aplicar-se à maioria das abordagens e metodologias, No entanto, identifico-me com Reggio Emilia na posição e postura que o adulto adota nesse contexto, sendo tanto ou mais necessário nos bastidores, em observação e estudo do que em cena. O adulto, para além de providenciar esse contexto seguro, desafia a criança dentro dessa sua curiosidade inata, expondo-a a contextos novos e documentando essa descoberta individual. Hoje em dia é mais fácil a partilha desses registos com os pais, através das novas tecnologias, sem ter de necessariamente se fazer um portfólio físico de cada criança.
É um privilégio ter a possibilidade enquanto ama, neste contexto e dimensões familiares, de poder fazer esse tipo de exposição e documentação das explorações das crianças. Tendo como ponto de partida, dentro do possível, materiais naturais, é possível expor as crianças aos mais variados cenários criativos e versáteis, sem que para isso sejam necessárias explicações, regras ou imposições. Isso exige do adulto, de mim, uma atitude Mindful de mente de principiante, sem expetativas ou objetivos pré-concebidos. Olhar para a situação sem esperar resultados. Observar o maravilhamento e curiosidade com que a criança entra nestes mundos que podem ser tão simples para um adulto, mas que permitem à criança testar as suas próprias competências, habilidades, capacidades, gostos, receios. Conhecer-se a si mesma através das experiências que vive.
Pikler-Lóczy
– movimento livre –
Revejo-me numa abordagem Pikler-Lóczy, por exemplo, no meu interesse em estudar e reconhecer as fases de desenvolvimento infantil como base para um acompanhamento consciente, com a intenção de criar o contexto adequado a cada uma das crianças para que o seu potencial inato seja alcançado da forma mais segura e eficaz possível. Numa perspectiva do movimento livre, estudado e defendido por Emmi Pikler, acredito que a criança desenvolverá determinadas capacidades (motoras e cognitivas) apenas e só quando estiver preparada, sendo o meu papel o de criar as condições físicas e emocionais para que isso se desenrole de forma orgânica. Este tipo de abordagem exige uma observação atenta de cada movimento, de cada conquista, de cada frustração da criança. E esta observação exige um compromisso de presença, sem imposições e sem querer acelerar ou generalizar o processo de desenvolvimento, que é sempre único e individual.
O contexto de ama permite esta observação em presença plena, uma vez que há um rácio de 4 crianças para 1 adulto. Além disso, o facto de as crianças terem idades diferentes e se encontrarem por isso em fases de desenvolvimento distintas, implica uma atenção específica a cada uma delas, o que é possível neste contexto de grupo pequeno.
Shefali Tsabari
– parentalidade consciente –
A primeira vez que peguei no livro “Pais Conscientes” de Shefali Tsabari, não consegui ler até ao fim. O confronto foi tal que me deixou sem chão. Foi a primeira vez que eu tive contacto com conceitos como “falar sobre parentalidade não é falar sobre os filhos, é falar sobre os pais”. Foi aí que tomei consciência que a minha responsabilidade enquanto mãe era mais olhar para mim e o que me provocava a maternidade, do que olhar para a minha filha e tentar moldá-la de uma qualquer forma pré-definida.
Desde esse momento, já lá vão quase 10 anos, que a minha forma de maternar tomou um rumo novo, que se abriram novos horizontes. Foi a partir desse momento que tive a certeza que um dia iria trabalhar com pais. Que não fazia sentido centrar-me na aprendizagem do desenvolvimento infantil e de todos os modelos de pedagogia, se não fosse dada também, e até em primeiro lugar, ao contexto onde a criança se desenvolve.
“Por meio dos nossos filhos, conseguimos lugares na orquestra para ver a complexa dramaturgia da nossa imaturidade, pois eles evocam emoções possantes que nos podem fazer sentir que não temos controlo nenhum – com toda a frustração, insegurança e angústia que acompanha esta sensação.”
‘Pais Conscientes’
Shefali Tsabari
Gabor Maté
– a primeira infância e a construção do Eu –
Ao ler e ouvir Gabor Maté, o sentido de responsabilidade que sentia perante as minhas ações para comigo mesma e, principalmente, para com os bebés / crianças pequenas aumentou exponencialmente. Se já tinha consciência que há uma sensibilidade inata por parte das crianças de percepcionar o seu contexto e as emoções dos cuidadores primários, Gabor fez-me perceber que implicações tem para a mente e o próprio corpo essa interação por vezes invisível (ao nível do inconsciente).
O poder que temos em mãos quando cuidamos de uma criança traz consigo uma beleza e responsabilidade enormes. É o meu papel, enquanto mãe e ama/educadora proporcionar à criança o contexto mais seguro possível, para que Amar seja a maior aprendizagem que ela interiorize e leve para a vida adulta!
“ Relações futuras terão como base os circuitos nervosos que forem construídos nas nossas relações com os nossos cuidadores primários .
Iremos compreender-nos da mesma forma que nos sentimos compreendidos.
Iremos amar-nos da forma como sentimos ser amados, ao nível mais profundo do inconsciente.
Iremos cuidar de nós com a mesma compaixão que, no mais profundo do nosso ser, sentimos enquanto crianças pequenas. “
‘When the Body Says No’
Gabor Maté