Esta é uma tradução livre do artigo original em Inglês: What to do when your discipline strategy stops working, Ariadne Brill, Positive Parenting Connection, Outubro 2015

“Já tentei tudo! Usei recompensas com estrelas douradas. Tentei prémios divertidos como suborno. Fizemos jarros divertidos com pompons. E muito gritar. Pedinchar. Retirar tablets, doces e brinquedos. Tudo resulta por um período de cerca de 2 dias. Com sorte, 1 semana. E depois voltamos ao mesmo. Estou cansada. E os meus filhos parece que nem sequer se importam. Socorro!!!! – Uma mãe muito cansada.”

Pode ser muito frustrante quando as tuas estratégias disciplinares parecem não funcionar. Muitas vezes o problema não é não estares a ser suficientemente consistente ou criativa com os teus castigos…. É que subornos, castigos e recompensas têm a tendência para apenas cultivarem a obediência. E enquanto a obediência faz com que as coisas pareçam fáceis, obediência não é necessariamente sinónimo de aprendizagem a longo prazo ou de apoio a capacidades.

As crianças precisam de aprender a lidar com as suas emoções. Elas precisam de exercitar tomadas de decisão e até fazerem um esforço para encontrar a solução para os seus problemas, de modo a desenvolverem o sentido de responsabilidade e a “portarem-se bem”.

O segredo para disciplinar de forma eficiente?
Deixar de querer controlar tudo e, ao invés, focar-se na conexão e a orientação. (1)

Quando o foco da parentalidade é a conexão e a orientação, o que se permite é a aprendizagem, e não apenas a obediência. Quando nos comprometemos em ter uma relação sólida com os nossos filhos, baseada na confiança e no encorajamento, estamos activamente a criar oportunidades para uma influência positiva. Essa influência é o que vai fazer a diferença, quando o teu filho se sentir perdido. Quando forem cometidos erros e for necessária orientação.

Conexão faz-nos sentir melhor, cuidados e amados.

Quando nos sentimos em contacto (2) com o nosso filho, oferecendo orientação, e as correcções vêm do respeito, da bondade e do amor. Os nossos filhos, em troca, tornam-se mais cooperativos, sentem-se seguros e prosperam.

Isto não quer dizer que não haverá mais conflitos ou “mau” comportamento. Isso é simplesmente impossível. Porque somos todos, por defeito, imperfeitos e estamos constantemente a tentar satisfazer as nossas necessidades. Por vezes, estas necessidades entram em conflito. Mas quanto mais a tua estratégia disciplinar e centrar na construção das relações e na compreensão, maior será a probabilidade de a tua acção parental trazer à tona o melhor de todos na família.

Deixo aqui três sugestões práticas que podem fortalecer activamente a relação com o teu filho e o seu bem-estar emocional e levar a uma melhoria de comportamento. Sem castigos, subornos ou recompensas.

1. Arranja tempo para estarem juntos

Criar momentos no quotidiano que se foquem apenas na conexão, não na correcção ou na crítica, recarregam as reservas do “sentir-bem” do teu filho. Momentos de conexão são igualmente sinónimo de prestar atenção, de estarem livres de distrações ou ecrãs. Cada família escolherá esses momentos de forma única, mas ficam aqui algumas ideias:

  • uma rotina matinal mais desacelerada, com muitos abraços e beijos;
  • 10 minutos durante a tarde apenas para ouvir o teu filho falar;
  • um quadro de abraços que regista de forma informal que cada um deverá dar pelo menos 8 abraços por dia ao outro;
  • dar um passeio;
  • brincar a jogos divertidos, como a apanhada ou às escondidas.

Usar deliberadamente estes momentos para apenas ouvir e valorizar (3) o teu filho também te ajudará a reagir positivamente quando eles erram.

2. Orientação com respeito

A disciplina que é respeitadora não se foca em tu teres o controlo sobre o comportamento do teu filho. Ao invés, apoia oportunidades de o teu filho aprender a controlar o seu próprio comportamento. A tua orientação respeitadora também cultiva activamente as capacidades do teu filho e exemplifica como ser respeitador e bondoso para com os outros (uma competência vital para o sucesso!).


Ficam aqui algumas formas práticas de orientar com respeito:

  • Parar comportamentos perigosos, de forma a ajudar e manter os teus filhos seguros. Evita sermões e envergonhar.
  • Estabelecer claramente os limites – ver mais aqui (saying what you mean and meaning what you say)
    • Tem em conta as habilidades dos teus filhos (eles são mesmo capazes de fazer o que lhes estás a pedir?)
    • Tem em conta as necessidades do teu filho (ele tem fome, está cansado, com sono, assoberbado?)
    • Tem em conta que a mudança e a aprendizagem precisam de repetição, tempo e repetição.
  • Valida os sentimentos e as experiências antes de fazer pedidos ou correcções
  • Pega nos erros e transforma-os em oportunidades para resolver os problemas e trabalharem sozinhos

 

Atreve-te a aceitar a imperfeição

Aceitar a imperfeição pode aplicar-se tanto a ti como ao teu filho. Ser pai/mãe é uma grande oportunidade para aceitar que todos erram e que esses erros são uma oportunidade para aprenderem juntos.

“Imperfeições não são inadequações; elas são a lembrança de que estamos juntos nisto.” Brené Brown

Aspira preocupar-te menos em fazer com que o teu filho seja de determinada forma. Ao invés, tenta conhecer o teu filho, autenticamente, da forma que ele é. O que gosta o teu filho de fazer? Quais as suas maiores dificuldades? O que pode ensinar-te? Quando as crianças se sentem aceites e validadas a conexão e cooperação cresce.

É muito provável que o teu filho se “porte mal”. Eles irão errar, e comportar-se de uma forma que não é a ideal. Tudo bem. A tua tarefa poderá ser mostrar o caminho. E, se te irritares, pede desculpa e continua. Dar o exemplo de imperfeição e de como corrigir os próprios erros é também uma lição valiosa para as crianças.

Se a tua estratégia disciplinar deixou de funcionar, eu encorajo-te a começar a olhar para a disciplina não apenas como um penso rápido, mas mais como uma peça de um grande puzzle que é a tua relação com o teu filho. Quando te focas em trabalhar junto com o teu filho, orientá-lo em vez de o controlar, há uma forte possibilidade que comeces a ver mais cooperação e aprendizagem.

Ariadne Brill

 

(1) connection and guidance, no original
(2) connected, no original
(3) appreciate, no original

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