Excertos originais da edição em Português do Brasil: Os bebês e suas mães (2ª edição – 1994, S.Paulo, ISBN 85-336-0257-X)
Introdução
No capítulo 8, o Dr. Winnicott afirma que a mãe não pode aprender nos livros, com as enfermeiras ou com os médicos, a fazer o que lhes cabe fazer. Na verdade, estas fontes de conselhos podem ser mais maléficas do que benéficas. Para o “especialista” em cuidados à criança, ensinar às mães a grande importância do que elas fazem pelos seus bebês significa torná-las autoconscientes – e “a partir daí passam a fazer tudo pior do que faziam”. O livro destina-se aos assim chamados conselheiros (o médico, a parteira ou a enfermeira) e a mensagem do Dr Winnicott a essas pessoas é de que fortaleçam a confiança da mãe em si mesma e em sua capacidade de perceber o seu bebê no decorrer do processo complexo, mas natural, que parte da total dependência e identificação para com a mãe, e conduz a um estágio que encontra sua melhor definição nas palavras de Tennyson:
So rounds he to separate a mind
From whence clear memory may begin
As through the frame that binds him in
His isolation grows defined.
(…)
Este livro deveria consolidar sua influência sobre todos esses grupos profissionais, para os quais o conhecimento do desenvolvimento humano é essencial a uma prática adequada. Talvez a lição mais importante a ser aprendida pelo “especialista” seja não interferir desnecessariamente e aprender com a mãe, ao invés de tentar ensiná-la. (VII-VIII)
CAPÍTULO I: A mãe dedicada comum
A natureza, no entanto, decretou que os bebês não possam escolher suas mães. Eles simplesmente aparecem, e as mães têm o tempo necessário para se reorientar e para descobri que, durante alguns meses, seu oriente não estará localizado a leste, mas sim no centro (ou será que um pouco fora do centro?).
Sugiro, como vocês sabem, e suponho que todos concordem, que comumente a mãe entra numa fase, uma fase daquela ela comumente se recupera nas semanas e meses que se seguem ao nascimento do bebê, e na qual, em grande parte, ela é o bebê, e o bebê é ela. E não há nada de místico nisso. Afinal de contas, ela também já foi um bebê, e traz com ela as lembranças de tê-lo sido; tem, igualmente, recordações de que alguém cuidou dela, e estas lembranças tanto podem ajudá-la quanto atrapalhá-la em sua própria experiência como mãe. (pg. 4)
(…)
Devo, agora, retomar a idéia de culpa. É necessário que saibamos olhar para o crescimento e desenvolvimento humanos, com todas as suas complexidades que são pessoais ou intrínsecas à criança, e sejamos capazes de dizer: houve, aqui, uma falha do fator “mãe dedicada comum”, e fazê-lo sem culpar quem quer que seja. (…)
No entanto, precisamos levar em conta a etiologia e ser capazes, se necessário, de dizer que algumas das falhas de desenvolvimento com as quais nos deparamos decorrem de uma falha do fator “mãe dedicada comum” em determinado momento ou ao longo de uma fase. Isto nada tem a ver com responsabilidade moral; trata-se, na verdade, de um outro assunto. De qualquer forma, “até que ponto terei sido boa enquanto mãe?”.
Tenho, entretanto, um motivo especial pelo qual sinto que devemos ser capazes de fazer uma divisão equitativa da importância da etiologia (e não da culpa), e este motivo diz respeito ao fato de que não podemos reconhecer o valor positivo do fator “mãe dedicada comum” de nenhuma outra forma – a necessidade vital que tem cada bebê de que alguém facilite os estágios iniciais dos processos de desenvolvimento psicológico, ou desenvolvimento psicossomático, ou, com talvez eu deva dizer, do desenvolvimento da personalidade mais imatura e absolutamente dependente, que é a personalidade humana. (pg.7)
(to be continued…)
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