Esta é uma tradução livre do artigo original em inglês: Toddlers and Challenging Behavior:  Why They Do It and How to Respond

O comportamento desafiante da criança de 2-3 anos: porque o fazem e como lidar com isso

O período dos 2 e os 3 anos de idade é muito excitante. As crianças começam a aperceber-se que são indivíduos separados dos seus pais e dos prestadores de cuidados. Isto leva a que se afirmem, que transmitam as suas suas preferências e também aquilo que não gostam, que ajam de forma independente (tanto quanto conseguem!). As crianças desta idade estão também a desenvolver competências linguísticas que os ajudam a exprimir as suas ideias, vontades e necessidades.

Ao mesmo tempo, elas não entendem a lógica e ainda têm alguma dificuldade com o esperar e o auto-controlo. Em suma: as crianças de 2 anos querem o que querem quando o querem. Esta é a razão pela qual poderão ouvir, mais vezes do que até aqui, coisas como “não” e “eu fazer” e “mudar a fralda não!

 

Aprender a lidar com sentimentos fortes

Como pais, o vosso trabalho é ajudar as vossas pequenas crianças a navegar pela maré de emoções fortes que elas experienciam nesse ano. Não é tarefa fácil, uma vez que vida emocional de uma criança de 2 anos é muito complexa. Nessa idade eles começam a experienciar pela primeira vez sentimentos como orgulho, vergonha, culpa e constrangimento.

As crianças destas idades são muito parecidas com os adolescentes. As suas emoções podem mudar radicalmente de um momento para o outro. Elas podem estar contentes quando recebem um gelado e logo a seguir desesperar quando começa derreter nas suas mãos. Por isso mesmo é que as crianças nesta idade precisam muito da vossa orientação carinhosa para que aprendam a lidar com as suas emoções. O seu filho demonstra estar a passar por esta dificuldade quando:

  • Desespera quando vocês não conseguem entender as palavras dele;
  • Ele diz não quando na verdade quer dizer sim (quando lhe oferecem a guloseima preferida);
  • Fica tão zangado que poderá atirar um brinquedo;
  • Não se satisfaz com um substituto – se o pijama roxo está para lavar, ele fica inconsolável (mesmo quando lhe é oferecido um de outra cor, o das bolinhas, o dos ursinhos, etc.);
  • Ele faz uma cena quando fica frustrado – desiste ou fica zangado quando não consegue fazer um jogo.

O seu filho está a aprender a lidar com as emoções fortes quando:

  • Usa palavras ou age de modo a conseguir chamar os pais ou pedir ajuda;
  • Fala sozinho de uma forma reconfortante quando está frustrado ou assustado. por exemplo, ele pode dizer a si mesmo “O papá vai voltar” depois de o deixar na creche. Ou, “Eu posso construir isto outra vez” quando a torre de blocos cai;
  • Revisita um evento stressante, como uma ida ao médico;
  • Usa palavras como “estou zangado” ao invés de atirar coisas ou bater;
  • Diz quais são as regras ou mostra que se sente mal quando quebra as regras. Por exemplo, o seu filho poderá dizer não a si próprio quando faz alguma coisa que não lhe é permitido, como abrir a porta do frigorífico. Ou poderá dizer-lhe no parque “Não andes à frente dos baloiços”.

 

Exercitar o Auto-Controlo

Quando é confrontado com comportamento desafiante, isso normalmente quer dizer que o seu filho não consegue entender como pode expressar os seus sentimentos de uma forma aceitável ou não sabe como satisfazer uma necessidade. Quando a sua resposta lhe mostra uma forma diferente e mais construtiva de lidar com esses sentimentos, está a ajudar o seu filho a aprender.

Aprender a lidar com emoções fortes acontece naturalmente à medida que a criança desenvolve melhor as competências linguísticas, no seu terceiro ano de vida, e ganha mais experiência com outras crianças, lidando com a desilusão e seguindo regras. Apesar de as crianças não dominarem completamente o auto-controlo até chegarem à idade escolar (e o praticarem nas suas vidas!), aqui estão algumas ideias para que o seu filho comece a aprender esta importante competência:

  • Fale sobre os sentimentos e como lidar com eles. Leia livros e comente como se sentem os personagens na história: “O cão está mesmo contente por ter conseguido um osso.” E partilhe os seus próprios sentimentos: “Entornei o leite do bebé. Sinto-me mesmo frustrado/a! Ajudas-me a limpar? Uau, sabe mesmo bem poder contar com a tua ajuda”. Quando o seu filho consegue identificar o que sente, isso ajuda-o a ganhar controlo sobre as suas emoções e a comunicá-las aos outros.
    Assim que o seu filho tenha identificado os seus sentimentos, poderá sugerir-lhe o que poderá ele fazer para que se sinta melhor ou para que resolva o problema. Isso ajuda-o a aprender o que fazer no futuro quando for confrontado com um desafio semelhante. Por exemplo, se ele está triste porque os avós foram embora depois de uma estadia de 2 semanas, poderá sugerir-lhe que veja as fotografias deles ou que lhes faça um desenho.
  • Ofereça ao seu filho ideias de como gerir emoções fortes. Crianças jovens precisam de orientação quando se trata de lidar com sentimentos tão grandes como ira, tristeza e frustração. Por isso, quando o seu filho estiver mesmo zangado, valide o que ele está a sentir: “Estás mesmo chateado porque eu disse que não podias ver mais televisão“.
    Depois sugira que salte, que bata nas almofadas do sofá, que rasgue papel, que se enrosque sozinho num cantinho confortável, que desenhe uma imagem de alguém zangado ou outra estratégia que considere apropriada. O que é importante é ensinar ao seu filho que existem muitas formas de expressar o que sente de modo saudável e não violento.
  • Crie empatia com o seu filho. Não há qualquer problema em dar a conhecer ao seu filho que compreende que as escolhas que lhe estão a ser oferecidas não são as que ele deseja: “Temos de sair agora para ir a casa da Sra. Célia. Eu sei que queres ficar em casa com o papá. Tu sentes a minha falta e eu sinto a tua falta durante o dia. Mas hoje ficar em casa não é opção. O papá tem de ir trabalhar. Mas quando chegarmos a casa, vamos acabar o puzzle que começámos e comemos um jantar delicioso. Queres ser tu a sentar-te sozinho na cadeirinha do carro ou queres que seja eu a pôr-te lá?” .
  • Forneça um apoio visual ao seu filho para facilitar as coisas. Se o seu filho tem de esperar até que a sua papa arrefeça, mostre-lhe o vapor que sai da tigela. Diga-lhe que quando o vapor desaparecer, poderá experimentar a papa para ver se já está boa. Se precisar de ajudar o seu filho a escovar os dentes todos os dias, use um temporizador para que ele consiga visualizar o tempo que falta. Precisa de 10 min. para tratar da roupa? Ponha o alarme do forno da cozinha para que o seu filho consiga perceber quanto tempo tem ainda de esperar.
    Os alarmes são também óptimas ferramentas para ensinar as crianças a partilhar. Dê a cada uma alguns minutos – usando o alarme – para que brinquem com o brinquedo que ambos querem, como aquele triciclo novo a brilhar estacionado lá atrás. Também ajuda relatar o óbvio: “Às vezes é difícil esperar, não é?“.
  • Deixe que o seu filho faça escolhas apropriadas para a sua idade – sobre o que vestir (oferecer 2 opções) e o que comer (dentro do razoável), a que brincar, com quem brincar. Isto confere à criança uma sensação de controlo e apoia o crescimento da sua confiança e sentido de competência (acreditar que “Eu sou capaz”).
    Oferecer opções de escolha ajuda também a contrariar o jogo “Esse não”, onde lhe oferece continuamente coisas diferentes e ele continua a dizer “Esse não, o outro!”. Ao invés, tente dar ao seu filho 3 escolhas e deixe-o escolher: “Podes comer uma maçã, queijo ou um pãozinho para o lanche. O que te apetece mais?”.
  • Arranje formas de ajudar o seu filho a exercitar o auto-controlo. Há muitos momentos no quotidiano que pode usar para ensinar ao seu filho esta competência. Por exemplo, jogos que exijam jogar à vez são óptimos para exercitar o esperar e o partilhar. Jogar à bola a dois, atirando-a de um para o outro, por exemplo. Este jogo permite à criança esperar e controlar o impulso de agarrar a bola.
    Ou experimente encenar uma história. Brincar ao faz-de-conta oferece inúmeras oportunidades para esperar, brincar à vez, e negociar com a criança o desenrolar da história. Outra ideia é brincar ao “partilhar a música” onde cada um escolhe um instrumento para tocar e se põe o temporizador por 1 minuto. Quando acaba o tempo, trocam os instrumentos e o tempo recomeça a contar.

 


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