Esta é uma tradução livre do artigo original em inglês: Are you responsible FOR or To your children, de Alice Hanscam

Não és responsável PELO teu filho.

Se és responsável PELOS teus filhos, então tens de começar já a fazer com que eles pensem, sintam e se comportem da maneira “correcta”. Quando eles cometem um erro, têm dificuldades e magoam alguém – se és responsável POR eles, então tens de arranjar maneira de remediar os seus problemas, pôr termo às suas dificuldades, fazer com que sejam simpáticos e carinhosos.

A questão é: nós estamos a criar uma pessoa, não a resolver um problema.

Quando somos responsáveis PELOS nossos filhos, estamos a tentar que eles pensem, sintam e se comportem de determinada forma, para que NÓS nos sintamos melhor (como acabar com as birras em público…). Poderá ser para seu benefício, mas tem mais a ver com a nossa própria ansiedade (de volta às birras em público – o nosso constrangimento e desconforto podem rapidamente sobrepor-se ao reconhecimento de que não há problema em haver emoções fortes… e que estas precisam de ser cuidadas e não ser excluídas). Isto ameaça relações e certamente não ajuda a criar uma criança responsável por si própria. Como é seres responsável PELO teu filho?

Responsável POR acaba por traduzir-se em pedinchar, gritar, ameaçar, bajular, evitar, subornar… (como de todas as vezes em que andava sempre “em cima” da minha filha adolescente, para garantir que ela estava em dia com os TPC’s…).

Nós fazemo-lo para nos sentirmos bons pais, menos constrangidos, em controlo, aliviados… (Ufa, quando ela conseguia fazer o TPC de acordo com a MINHA planificação, sentia-me bem! Que filha espera que tenho. Que boa mãe que sou…). 

Como soa ser responsável PELO teu filho: “Pára com isso ou perco a paciência!”; “Ok, ok, podes comer mais uma bolacha, mas pára lá de choramingar.”; “Se me tivesses ouvido não estarias com este problema!”.

Isso poderá fazer com que consigam tirar BOM a tudo e que nós possamos sentir que “Fizemos um bom trabalho; Tenho um filho muito esperto; Sou um bom pai.” Ufa. Não tornaria tudo mais fácil? Isso poderá fazer também com que parem com uma “cena” para que não te sintas constrangida e, pelo contrário, te sintas em controlo.

O que “ouvem” os nossos filhos quando somos responsáveis POR eles?

Que não confiamos na sua capacidade de se controlarem (ou aprenderem a controlar-se), e que não conseguimos lidar com a forma como se comportam ou sentem – e isto abala-os profundamente. Ter a pessoa mais madura a não conseguir lidar com os pensamentos e sentimentos ou acções da pessoa menos madura é assustador para as crianças. Isso poderá fazer com que façam ainda mais “cenas” ou que se anulem e talvez até obedeçam – muitas vezes relutantes e ressentidas (especialmente se forem adolescentes!). Quando assumimos maioritariamente este papel de responsabilidade POR, isso poderá ser a custo de uma relação saudável.

Nós temos, no entanto, uma enorme responsabilidade enquanto pais. Como diz Hal Runkel de ScreamFree Parenting, nós somos responsáveis PARA COM os nossos filhos. Somos responsáveis para com eles na forma como estruturamos o seu ambiente – tanto física como emocionalmente; na forma como compreendemos o desenvolvimento infantil,as idades e as fases, as suas necessidades e como responder a estas; e, talvez mais o mais importante, somos responsáveis PARA COM eles na forma como NÓS pensamos, sentimos e nos comportamos.

Quando agimos de forma responsável PARA COM os nossos filhos, estamos focados primeiro em nós próprios: temos controlo do que pensamos, sentimos e como nos comportamos, ao invés de dirigirmos toda a nossa atenção na forma como os nossos filhos o fazem; lidamos com os nossos sentimentos de ansiedade para evitar que estes tomem conta da situação.

Agora sim, temos a oportunidade de nos colocarmos numa posição onde possamos influenciar positivamente os nossos filhos para que aprendam sozinhos e motiva-los a fazer escolhas mais saudáveis. Para que sejam responsáveis por si próprios. Agora os nossos filhos “ouvem” a nossa confiança neles, o nosso respeito pelo que pensam e sentem. Agora os nossos filhos podem contar connosco para que possamos manter a calma, façam eles o que fizerem. É aqui que é construída a confiança e cultivado o respeito – e é assim que as crianças podem aprender ao longo dos anos a tornarem-se responsáveis por si próprios.

Tu és responsável PARA COM os teus filhos. Para que sejas o adulto que eles precisam que sejas, para compreenderes e confiares em quem os teus filhos se estão a tornar, para lhes dares oportunidades reais de aprendizagem acerca deles próprios, o que gostam e não gostam, o que conseguem e não conseguem fazer… para que cresçam de forma optimal. Hoje, recua e pensa primeiro se a forma como queres agir é baseada em sentimentos de ansiedade, em quereres que se comportem da maneira “correcta” – ou se, ao invés, podes parar, acalmar a tua própria ansiedade, olhar para a pessoa que estás a criar e responder de forma a que possam tomar as rédeas do seu próprio ser e se sintam capazes, respeitados e confiados.

Este acordo parental? É um enorme, difícil e incrivelmente gratificante processo de crescimento para todos os envolvidos. Acolhe-o e e aumenta tua consciência do que te mantém na direcção que pretendes os mais-auto-direccionados, responsáveis, futuros adultos incríveis e relações carinhosas baseadas na confiança e no respeito. Tu és capaz.

Alice Hanscam, 2015, Positive Parenting Connection

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