Para os pais conscientes da sua responsabilidade, a educação há muito que deixou de ser aleatória. Há várias razões para esta atitude. Valores antigos, que se apoiavam em tradições e crenças religiosas, tornaram-se frágeis. A Ciência esforça-se por encontrar formas de preencher esta lacuna. (…)
Os pais que oferecem segurança aos filhos, que os protegem, que estão conscientes da sua responsabilidade, que disponibilizam o seu tempo para as crianças, que dão o seu exemplo e que estão sempre dispostos a  conversar, incentivam a inteligência emocional dos seus filhos. As crianças são como os trapezistas, no circo, mostrando os seus talentos, lá no alto. Os pais esticam a rede. Assim, estabelecem a condição mais importante para que os seus descendentes conscencializem, gradualmente, as suas emoções, se apercebam da sua importância, as exteriorizem e aprendam a lidar com elas.

Capítulo I
Não há educação sem emotividade ou: a educação emocional ingénua

No tempo em que as crianças ainda não eram vistas como indivíduos
De qualquer maneira, não devemos esquecer também que, para os próprios educadores, tanto o “deixa andar” como a educação resultante da tradição de ordem cristã e monárquica traziam consigo uma enorme vantagem: não viviam conscientes de que o bem-estar da criança dependia, somente, do seu desempenho na educação. O peso da responsabilidade era, para estes educadores, significativamente menor do que para os pais modernos – Deu, a tradição e o destino aliviavam-nos desse peso. Pelo contrário, os pais modernos carregam consigo a faixa “os pais responsabilizam-se pelos seus filhos” não só em locais de perigo.” (pg. 17)

A radiografia do cérebro
Através de modernas pesquisas ao cérebro, confirmou-se a importância que os primeiros três a quatro anos de vida têm para todo o desenvolvimento humano, pois, nesta fase, o cérebro infantil cresce até dois terços do seu tamanho final e aumenta muito mais rapidamente de complexidade do que alguma vez o fará.” (pg. 19)

A vivência primordial da solidão a dois
O recém-nascido tem, desde os primeiros dias de vida, um programa respeitável de tarefas a cumprir:
1. Tem de aprender que as suas necessidades não podem ser atendidas imediata e forçosamente no momento em que aparecem;
2. que está separado da pessoa que lhe serve de referência;
3. que pode estabelecer contactos;
4. que a unidade existente, antes do parto, foi substituída pelas relações que se iniciam com cada indivíduo.
Mesmo quando a criança não “consciencializa” tudo isto, está muito ocupada a digerir todas estas mudanças. O grau de empenhamento com que o parceiro, com muito mais experiência, inicia o novato no amor tem, por isso, um significado decisivo para a sua capacidade futura de relacionamento. Um lactente não pode ainda “ser estragado com mimos”, ele precisa de sentir a segurança de que a pessoa que lhe está mais próxima se encontra “sempre disponível”.” (pg.20-21)

Capítulo II
A descoberta da Inteligência Emocional e as suas presumíveis consequências ou: o banal e o revolucionário

A apologia da desconfiança
“Acreditamos naquilo que dizem os peritos. Em quem é que havíamos de confiar?”
Quando se trata de questões de conjectura, talvez The Waigel tenha razão em confiar nos peritos. Mas, mesmo neste caso, é válido o seguinte: no momento em que os objectivos políticos têm de ser debatidos, os economistas não podem mais decidir sozinhos. O perito moderno é caracterizado por ser um grande especialista numa área muitíssimo específica. Como ele passa o dia ocupado com esta área, corre o risco de a considerar o centro do mundo.
No princípio deste século, foi aplaudida a ideia do psicólogo francês, Alfred Binet, de prever o sucesso escolar através de testes formais. O “Teste de Inteligência” determinou a partir daí, e durante dezenas de anos, como alguém, com todo o direito, devia ou podia considerar-se inteligente. Até que as débeis censuras quanto às bitolas dos testes e os seus sucessores se transformaram em crítica aberta.
Entretanto, é um dado adquirido que Binet e os seus colegas eram peritos que, na realidade, exploravam um pequeno campo, embora se considerassem responsáveis por um campo muito maior: eles pensavam estar a medir não uma, mas “a” inteligência, estando, no entanto, a ocupar-se das inteligências lógico-matemática e linguística.

Em compensação, os pais são precisamente o contrário dos peritos. Eles são, por necessidade, especialistas da generalidade e não se podem permitir dedicar-se intensa ou exclusivamente e um só campo da educação infantil. Eles têm de mudar fraldas, dar de comer, preparar uma alimentação saudável, procurar bons livros infantis e jogos, ajudar nos trabalhos de casa, tomar decisões sobre a semanada a dar e as horas de saída e regresso a casa, fazer boa figura no campo de futebol ou nos bailes de finalistas. Eles fazem de guias turísticos, animadores, conselheiros de moda e costureiros, fazem concorrência como educadores sexuais ao Dr. Sommer, proporcional tema de conversa nos cafés e possuem conhecimentos básicos de pediatria.
E eles informam-se, incansavelmente, para se manterem a par do que se passa em todas estas áreas. Ao mesmo tempo – e por amor ao descendente – ainda exercem uma profissão. E talvez sejam, aqui, especialistas de uma minúscula área deste mundo moderno, que não terá nada a ver com educação.
Os especialistas da generalidade têm um problema: por falta de tempo, não têm tempo, não têm hipótese de observar os peritos que se ocupam de alguns aspectos da sua tarefa, a educação. E nem uma só vez podem apresentar críticas comprovadas a estas publicações ou pequenos resumos que lêem para aumentar o seu conhecimento.
É um escândalo pois, no fundo, eles são os peritos. Quem conhece melhor os seus filhos senão eles? E agora surge o tema “Inteligência Emocional”. Mais livros, mais cursos, mais andanças para lá e para cá? A desconfiança instala-se, começando os pais a questionar-se se esse será realmente o melhor caminho. É sem dúvida o mais cómodo porque os especialistas nos apoiam. Pois, quando Goleman e Gardner sublinham o quão importante, para a felicidade e o sucesso na vida, é o saber lidar com os próprios sentimentos, aprendemos, antes de mais, a ouvir a voz dos nossos sentimentos, passando nós mesmos por essa experiência.
Pais, utilizem a vossa inteligência intra e interpessoal no relacionamento com os vossos filhos e no relacionamento com quaisquer especialistas em educação. A desconfiança também pode ser espontânea. Não suspeitávamos, já há muito tempo, que o QI não podia ser a medida de todas as coisas? (Como medida profiláctica, devíamos evitar que a Inteligência Emocional tenha a pretensão de tomar o lugar deste.)”
(pg. 40-42)

Capítulo III
No início está a auto-educação ou: os pais aprendem a serenidade

Igualdade de oportunidades – um osso duro de roer
“(Goleman) Com base em centenas de estudos sabemos que a maneira como os pais educam os filhos – quer autoritariamente, quer compreensivamente, com indiferença ou com carinho, etc. – tem consequências profundas e marcantes na criança. No entanto, só recentemente ficou comprovado que é de enorme vantagem para a criança ter pais emocionalmente inteligentes. Além do tipo de relação que têm com os filhos, o modo como o casal lida mutuamente com as suas emoções transmite às crianças lições marcantes, porque estas são alunos atentos, absorvendo os subtis fenómenos emocionais na família. Num grupo de pesquisa da Universidade de Washington (…) descobriu-se que os casais que eram emocionalmente competentes na vida conjugal eram, ao mesmo tempo, aqueles que ajudavam mais efectivamente os seus filhos nos desequilíbrios emocionais.”
Clarificando: quem souber lidar bem com as suas emoções, tem maiores hipóteses de educar os seus filhos como pessoas emocionalmente inteligentes. Isto não é surpreendente, mas está, finalmente, cimentado pela ciência. Assim, como já vimos,tendo esta forma de inteligência uma influência decisiva na felicidade e no sucesso de vida, as crianças com estes pais têm, pura e simplesmente, maiores oportunidades na vida.
(…)
O psicólogo Goleman sugere que a educação emocional só terá perspectivas de sucesso, quando o educador iniciar uma espécie de auto-educação. Tanto melhor, pois a auto-educação tem, neste caso, uma vantagem que não é de descurar: os pais não actuam só em nome dos filhos – como tantas vezes na vida – mas em proveito próprio.” (pg.50-51)

Capítulo IV
A educação das emoções na família ou: a arena das diferenças

No ninho da família
“Pintámos um quadro idílico? Claro, neste país (Alemanha), segundo resultados de pesquisas, os pais só conversam entre quinze a trinta minutos, por dia, com os filhos. As crianças são mandadas embora porque incomodam, sentam-se horas a fio à frente da televisão, onde são espectadoras de conversas e de exteriorização de emoções muitas vezes de baixo nível. Ser amado e sentir segurança estão, como verifica o psicoterapeuta Eckhard Schiffer, muitas vezes ligados a condicionamentos e “só são possíveis quando alguma coisa foi feita antes, isto é, quando a autonomia foi revelada”. Por todo o mundo, há crianças que, diariamente, por acontecimentos grandes ou insignificantes, são espancadas e maltratadas sem qualquer “razão”.
No entanto, se quisermos colocar, seriamente, a questão acerca de como o desenvolvimento da Inteligência Emocional pode ser incentivado nas crianças, temos de arriscar um esboço positivo. Para que ele possa ser realista e realizável, os pais têm de ser fortes e, em fases difíceis, estar conscientes do seguinte: somos nós que temos de proteger os nossos filhos. Aquilo que ainda não se pode esperar dos amigos da mesma faixa etária dos filhos, têm de ser os pais que o demonstram diariamente, ou seja, demonstrar sensatez a lidar com as suas próprias emoções, tendo-as “sob-controlo” na convivência com as suas crianças. As teses que só mostram o que há a fazer mais tarde e de forma organizada (na escola, por exemplo), para evitar a agressividade traduzida em manifestações de descargas de violência descontrolada, ficam muito aquém do que é verdadeiramente importante. Conforme escreve a etnóloga Jean Liedloff, “As crianças precisam de sentir que, segundo a sua natureza, são vistas como seres com boas intenções, que se esforçam por actuar correctamente e que esperam dos mais velhos um comportamento coerente para lhes servir de orientação.”
Aquilo que as crianças esperam dos adultos, esperam-no, em primeiro lugar, dos pais e, depois, de outros educadores, dos professores, dos treinadores, familiares ou amigos da família. Com as suas qualidades e defeitos, os pais estão tão próximos dos filhos que – pelo menos nos primeiros anos de vida – nenhum “profissional”de educação se lhes pode igualar.
Não se deve separar artificialmente aquilo que constitui uma unidade: as crianças aprendem com o seu pai e a sua mãe a língua materna. Elas também deveriam aprender com eles como se deve dialogar com o Outro, como se devem manifestar as emoções, como resolver conflitos, como se reconciliar. Isto aprendem de qualquer maneira desde que estejam na posse das suas capacidades, pois, especialmente nos primeiros anos de vida, elas estão ávidas de um modelo adulto. Daniel Goleman designa este espaço de tempo por “janela de oportunidade”: “A melhor oportunidade de edificar as primeiras peças da Inteligência Emocional encontra-se nos primeiros anos de vida.” Está nas mãos dos pais orientar a lição.” (pg. 75-76)

 

Capítulo V
As etapas da educação emocional ou: “educar” as crianças

Criança pequena, livros grandes
Os primeiros três a quatro anos de vida duma criança são o tempo em que o seu cérebro cresce até dois terços do volume final e durante o qual a sua complexidade aumentará com uma rapidez única. Durante esta fase, processos de aprendizagem muito importantes desencadeiam-se muito mais rapidamente do que numa idade mais avançada, principalmente o da aprendizagem emocional”. É assim que Daniel Goleman resume o que a Psicologia hoje sabe. Os 100 milhões de células do cérebro são, nos primeiros anos de vida, ligados com uma rapidez admirável. Aos dois anos, o cérebro de uma criança pequena contém o dobro de ligações das dos seus pais, despendendo o dobro de energia. O incentivo, através de estímulos exteriores, é decisivo para o desenvolvimento do cérebro.
(…)
As crianças que só raramente são acariciadas e que não são estimuladas a brincar possuem um cérebro inferior em um terço que outras da mesma idade. Estas revelações vêm cimentar aquilo que, no início do século, Sigmund Freud afirmara com os conhecimentos revolucionários da sua psicanálise e que, desde então, é tido como regra básica da Psicologia e Pedagogia: os fios condutores, decisivos para o desenvolvimento da personalidade, são formados na primeira infância.
Desde que a teoria do “subconsciente” se tornou popular e que o conhecimento e o significado das “marcas da primeira infância” romperam barreiras – portanto, desde que anda nas bocas do mundo o quão importante são os primeiros anos de vida para o desenvolvimento de uma pessoa – os pais têm, como educadores da primeira infância, um fardo bem pesado a carregar. Quem mais, senão eles, pode projectar a primeira fase de vida da criança? Os avós, os amigos, a televisão, os jornais e os livros científicos carregam (não raramente) ainda mais este peso, com a intenção de ajudar e de os querer aliviar nesta tarefa. No entanto, qual é a alternativa dos pais perante esta responsabilidade tão grande, senão informar-se o melhor que podem e reflectirem incansável e permanentemente sobre o eterno tema da “educação correcta”?
“Desde que o intelecto, com o seu leque de teorias, tomou conta da área da educação, as vicissitudes a que uma criança está expostas são em número muito superior e assustador.” Assim descreve a etnóloga Jean Liedloff o reverso da medalha, segundo o lema: Quando os pais lêem demais.
(…)
Que conclusões é que a autora (Liedloff) poderia sistematizar para aqueles que não podem imaginar passar meses na selva sul-americana? Eis a sua conclusão principal: enquanto que nos EUA inúmeros bebés, devido ao choro constante e enervante, “consomem os nervos dos pais” os bebés índios são nitidamente mais calmos e realizados. “A lógica da Natureza”, defende a autora, “proíbe a crença na evolução de uma espécie, na qual é característico impelir, infindavelmente, os seus pais a situações de fúria.” A suposição de que os bebés “simplesmente choram” tem, assim, pés de barro. Eles são, pelo contrário, seres declaradamente mais agradáveis e pacíficos (porque realizados), quando se lida com eles correctamente.
(…)
Partindo do exemplo do livro de Jean Liedloff, podemos tirar uma conclusão: o mais importante, no contacto com livros de consulta, é lê-los de modo emocionalmente inteligente!
Aproveite as ideias e estímulos e confirme se os conselhos compreensíveis se podem aplicar na vida real. Não ponha em causa a sua autoconfiança logo após a leitura do preâmbulo: a compra do livro significa que, já antes da compra, tinha reflectido sobre o assunto!
(…)
Parece-nos mais adequado o aviso de que os livros devem ser lidos correctamente: não como substituição da própria observação, mas como complemento desta.”
(pg.94-98)

 

As fronteiras

As crianças precisam de sentir que, pela sua natureza, são consideradas seres sociais com boas intenções, esforçando-se por actuar correctamente, e esperam um comportamento coerente por parte dos mais velhos, para servir de orientação” afirma Liedloff. A assimilação social e o modelo dos mais velhos delimitem as fronteiras, mas nem sempre são suficientes. Algumas regras têm de ser formuladas verbalmente e as transgressões castigadas conscientemente. Esta é uma das experiências mais dolorosas por que um educador passa, pois não é mais do que a expressão da desigualdade.
(…)
É um osso bem duro de roer aquele que os adultos sensíveis têm de roer, quando desejam fazer dos seus filhos cidadãos sensíveis: em prol do bem, têm de agir com voz alta, mostrando claramente os limites e até negando, isto é, agir da maneira que nunca desejaram fazer.
(…)
Mesmo quando, na infância, a aprendizagem das fronteiras é uma das principais tarefas dos pais, coloca-se desde início a questão de como conseguir que o ser em crescimento delimite ele próprio as fronteiras, a partir de determinada altura. É fácil de reconhecer que a “boa educação” será um dia supérflua.
Nem a pressão desnecessária, nem a constante mão protectora ajudam. Nesta situação são precisos outros dois componentes: a crua realidade, que quer ser ultrapassada sem o apoio da família e a advertência assimilada na personalidade, face aos outros e às situações. 
pg.101-102)

 

CAPÍTULO VI
Como é que se faz? Ou: métodos de educação emocional

Em vez de vivenciar “compreensão”, que o ajuda a entender as suas emoções negativas, as crianças, sobretudo as mais pequenas, são muitas vezes confrontadas, quando agressivas ou quando simplesmente endiabradas, com pseudo-esclarecimentos.
Assim, a explicação não é “tu estás furioso porque não consegues construir a torre”, mas simplesmente “tu estas com sono, tens de ir para a cama”. Qualquer criança ainda pequena entende que há qualquer coisa de verdade nesta expressão, mas que também é uma explicação fácil de mais e por isso errada, não ajudando, assim, a criança a compreender-se a si própria e às suas emoções. No entanto, não deixa de ser um reforço, ou seja, reforça, consequentemente, a falta de vontade da criança de ir para a cama. Quem observar atentamente verá que se deu origem a um círculo vicioso. (pg. 113)

A palavra é de prata. A prata é bonita.
Expressar emoções e falar sobre elas nem sempre significa deixar ficar tudo como está. Pelo contrário, o modo destrutivo como se lida com as próprias emoções negativas e com as dos outros só pode ser modificado quando uma pessoa se encontra na pele do que sofre com elas. É do conhecimento geral que, a longo prazo, as emoções negativas não podem ser recalcadas ou evitadas com sucesso, mas também ninguém é aceite de com grado como membro de uma sociedade quando simplesmente vivencia estas emoções quando elas aparecem.
O caminho inteligente está claramente delineado: temos de aprender a lidar com elas como com um familiar de quem não gostamos e que estamos sempre a encontrar e no qual, ao longo dos anos, até podemos vir a reconhecer algumas qualidades.
Porém, isto representa um trabalho árduo, um trabalho para toda a vida. Na infância é um trabalho para os pais, tendo que explicar, repetidamente, aos filhos o que estes sentem e porquê e o como ver positivamente situações negativas:

  • “Tu estás triste porque perdeste este jogo, mas no último foi a Anna que perdeu. Uma vez é um, uma vez é outro, é normal. Vamos jogar outra vez?”
  • “Eu percebo que estejas tão chateado, este carro da Lego é mesmo difícil de montar. Vamos tentar juntos ou queres continuar amanhã sozinho?”
  • “És só tu que estás aborrecido com o professor de matemática, ou podem falar todos com ele por os teus colegas também se sentirem atingidos?”

(…) Claro que, como adulto, nem sempre se tem paciência. Mesmo pessoas de natureza emocionalmente forte explodem ocasionalmente quando têm de explicar, pela milésima vez, ao seu adversário-criança, o profundo significado programático do jogo chamado “Não te zangues”.
Muitas vezes o silêncio é de ouro, mas não devemos subestimar a prata. A conversa é a melhor possibilidade de os pais e outras pessoas, que servem de referência, um dia, talvez, desenvolverem uma forma soberana de lidar com elas, se quiserem fazer com que as crianças tenham consciência das suas emoções sem ficar à mercê das mesmas.
(pg. 120-121)

 

CAPÍTULO VII
Um tema complexo: o tapete das emoções

Margem para a acção
Os psicólogos consideram que é perigoso não proporcionar às crianças a possibilidade de fazer algo sozinhas dentro ou fora de casa, de experimentar a resistência dos materiais. Sukopp avisa que as crianças que pensarem que tudo funciona com o simples pressionar de um botão, mais tarde pensarão também que a sociedade que os rodeia, incluindo as relações interpessoais, são facilmente e a seu gosto manipuláveis.
Isto significa que, para o desenvolvimento das aptidões interpessoais, é decisivo que as crianças passem algum tempo em espaços livres e criativos, onde possam fazer abrigos, arranjar esconderijos, ir para pontos de vigia e também deixar-se arrastar pela emoção do medo nas suas brincadeiras. 
(pg. 136-137)

(…)

Quem quiser sensibilizar as crianças para temas ecológicos, deve possibilitar-lhes vivenciar a natureza em vez de as levar para manifestações políticas. Não se trata aqui da apologia do passeio de fim-de-semana, mas sim dos passeios de bicicleta pela natureza, com pausas para brincar no pinhal ou nas margens de uma ribeira. E, sobretudo, proporcionar diariamente um ambiente que permita vivenciar espaços naturais, criativos e selvagens. (pg.138)

As crianças precisam de contos de fadas

(…) ler e contar histórias aos filhos, ao longo dos primeiros anos, é uma das coisas mais positivas que os pais podem fazer para o desenvolvimento espiritual das crianças.
Existem duas razões: a primeira tem a ver com a forma, o ler, o contar e o livro como suporte.
(…) O que se ouve ou se lê tem de ser primeiro imaginado pelo próprio, entrando em acção, nada mais nada menos, do que a fantasia do instante. As próprias ilustrações dos livros são para as crianças apenas uma bengala de apoio.

A segunda razão tem a ver com o contar ou ler histórias em voz alta.
Como explica o psicanalista e pedagogo Bruno Bettelheim, as crianças querem ser confrontadas, até na arte, com os lados sombrios, inclusivamente os abismos da vida. Sabem que existe o “mal” mesmo em si próprias. Sabem que as pessoas têm de lutar com dificuldades, que elas sofrem, que se podem aborrecer umas com as outras. Bettelheim diz: “Muitos pais pensam que só se deve confrontar as crianças com realidades cognitivas, imagens agradáveis ou desejadas, isto é, só lhes pretendem mostrar o lado cor-de-rosa da vida. Mas esta distorção unilateral apenas alimenta a personalidade unilateralmente, tendo a vida real, também, lados sombrios.”
O desejo dos pais de proteger os filhos de determinadas realidades, como a existência de pessoas coléricas, agressivas e muitíssimo anti-sociais, pode levar a que as próprias criançasseintam que são uns monstros, quando descobrirem em si próprias estes impulsos destrutivos. Assim, deixa-se a criança completamente sozinha com a parte negativa da sua personalidade: “Na nossa cultura, especialmente quando se trata de crianças, há tendência para fazer de conta que sete lado sombrio das pessoas não existe.” (Bentelheim) 
(pg. 140-142)

(to be continued…)

 

A Inteligência Emocional na Criança
Adelheid Muller-Lissner
Lissner
Edição/reimpressão:2006
Páginas: 168
Editor: Pergaminho
ISBN: 9789727112326

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