Dei por mim a ler, em paralelo, os capítulos introdutórios de 3 obras de 3 nomes relevantes da área da Psicologia Infantil, Pediatria, Psiquiatria, dos finais do século XX e início do século XXI.

Achei desde logo curioso o facto de, em todos eles, se “ler” um imenso RESPEITO pelo BEBÉ que acaba de nascer.

Isto, aliado a outras leituras e discussões (internas) que tenho feito, fez-me querer reflectir sobre a questão da BUSCA do MÉTODO CORRECTO, a BUSCA da RESPOSTA MILAGROSA, quando nos confrontamos com as dificuldades da parentalidade e de como lidar com o desenvolvimento do bebé.

Antes de procurar respostas à la carte para os desafios com que nos deparamos ao longo do complexo processo de educar, deveríamos, a meu ver, tentar perceber o contexto do problema e, acima de tudo, dos intervenientes.

E sim, há muitas dúvidas que procuram resposta, muitas inseguranças que podem transformar-se em parálise. E para responder a essas questões, para acalmar essas inquietações, deverão estar disponíveis os profissionais das diversas áreas ligadas ao bebé. A ciência pode aí dar fundamento às nossas inseguranças, às nossas dúvidas, enquanto pais. A ciência é universal. As ideologias e metodologias são, ao contrário, redutoras da realidade e, demasiadas vezes, alheadas das particularidades de cada contexto familiar e de cada bebé enquanto ser único.

A ciência tem, no entanto, uma linguagem técnica e não acessível a todos. Daí ser importante haver profissionais que façam a ponte entre os pais e a ciência, que traduzam a linguagem técnica e complexa em linguagem simples e prática. Esses profissionais não podem, no entanto, querer assumir papel de professores, detentores da verdade absoluta e da última versão do Manual de Instruções do Bebé e da Família. Tal coisa não existe, pelo que sei.

Leio sobre investigações científicas, metodologias, filosofias, ideologias, teorias. Comecei a ler tudo isto como se procurasse uma “corrente” que se adequasse às minhas crenças, aos meus valores. Fui sendo sempre alertada para a falta de fundamentação de muitas destas chamadas “teorias/filosofias”. Compreendo agora, depois de mais de 3 anos de pesquisas e leituras nesta área, que não faz muito sentido procurar umaseita onde me possa inscrever, por defenderem o mesmo que eu. Não faz sentido tentar fundamentar o que sinto e defendo usando teorias e filosofias que, elas próprias, defendem também aquilo em que acreditam… Torna-se um ciclo sensível, frágil e muitas vezes perigoso.

Estou a aprender a trabalhar este processo de busca de outra forma.

Em vez de ler e aprender as linhas orientadoras de como posso vir a ter de lidar com questões futuras, preciso de, antes de mais, analisar qual a questão que tenho em mãos, NO MOMENTO e À MINHA FRENTE. O meu bebé, o meu contexto. Depois de conhecer e analisar o meu contexto poderei então procurar APOIO para as minhas inseguranças. Não posso estar à espera de encontrar RESPOSTAS ou MÉTODOS que se apliquem ao meu caso. Dificilmente encontrarei algo tão específico, que tenha sido posto em prática num contexto idêntico, com as mesmas premissas e os mesmos intervenientes.

Se continuarmos à procura de MANUAIS, de MÉTODOS, podemos facilmente cair na tentação de passarmos a seguir um DOGMA, uma espécie de seita fechada nos seus próprios contexto e fundamentos, onde não é permitida a diversidade. Ora, o mundo é composto por DIVERSIDADE…

Se, mesmo assim, insistirmos em procurar um bom MANUAL DE INSTRUÇÕES  para compreender o bebé, olhemos para O SER que temos ao colo. Ele nos dirá o que precisamos de saber sobre ELE, enquanto indivíduo, diferente de todos os outros bebés do mundo. E podemos, então, partir para investigações, motores de busca, grupos de apoio,… aquilo que nos fizer sentir mais seguros enquanto pais, fundamentados pela UNIVERSALIDADE do que é conhecido, até hoje, do bebé e da sua natureza!

 

Gostaria de sugerir que a essência do papel de pai ou mãe não repousa sobre o que se faz pelo bebê, mas , principalmente, no intercâmbio, no feedback intensamente gratificante que se pode estabelecer entre o bebê e si mesmo. Os diferentes modos para adquirir este intercâmbio são numerosos e altamente individualizados. O período de tempo de cada passo em direcção a um apego íntimo e recompensador pode variar de pais para pais, mais em meses do que em dias. O melhor recurso para que se adquira o melhor papel como pai ou mãe certamente é a liberdade de conhecer a si mesmo, de seguir as próprias inclinações, e os melhores sinais para saber-se quando se está no caminho certo, com o bebê, são dados pelo próprio bebê.

Brazelton (1981)

Este livro é sobre o que aprendi quanto ao primeiro processo da interacção social: o comportamento tanto do bebé como da mãe, que vai desde a forma à estrutura, à definição e à funcionalização. Este livro não é um guia, é antes um livro sobre a experiência da relação mãe-bebé. A minha noção directiva ao conduzir esta pesquisa tem sido simples. A mãe e o bebé, quer estejam conscientes disso ou não, “sabem” mais do que nós sobre as suas próprias interacções sociais. Eles, sozinhos, agindo e interagindo como o fazem normalmente, foram os meus professores. A mãe está envolvida num processo natural com o bebé, um processo que se desdobra com uma complexidade fascinante para o qual, ela e o bebé estão preparados por milénios de evolução. Como eles “sabem intuitivamente” como é que as suas trocas se realizam, e como as sentem, tive de descobrir a maneira como melhor aprender com eles, coisas que não podem necessariamente ser contadas ou explicadas por palavras.

Daniel Stern, 1977

O livro destina-se aos assim chamados conselheiros (o médico, a parteira ou a enfermeira) e a mensagem do Dr Winnicott a essas pessoas é de que fortaleçam a confiança da mãe em si mesma e em sua capacidade de perceber o seu bebê no decorrer do processo complexo, mas natural, que parte da total dependência e identificação para com a mãe (…). 

D.W. Winnicott, 1987

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